Flyn Pinkman - 2075
- Flyn, você tem visita!
- o guarda anunciou pela porta da cela
- Diz pra ele que só
falo com ele quando ele me tirar daqui. - Flyn respondeu
- É uma mulher te
procurando. - guarda respondeu meio confuso
- Você é novo aqui? Diz
pra ela que falo com ela quando ele me tirar daqui. E que já estou
ficando impaciente.
O guarda não falou mais
nada e saiu. Eram todos instruídos a não falar comigo desde o
incidente em que convenci um guarda a abrir minha cela e o matei a
mordidas. Fui o único Indulger efetivamente expulso do grupo por
suas ações. Era brutal demais, intenso demais. Pelo menos essa foi
a explicação que me forneceram.
A cela tocava a música
erudita que sempre amei e a luz podia ser controlada, mas fora isso
era só eu e minha mente. Era um presídio de segurança máxima com
poucas pessoas trabalhando. A robótica só não substituiu tudo nas
prisões por causa de um filme sobre a fuga em massa de criminosos
causada por hackers de uma organização criminosa. Mas a comida era
sempre a mesma e o cheiro também. Lembrete da artificialidade que o
mundo tinha se tornado. Eu sonhava com a Ópera e com orquestras que
nunca poderiam ser mimicados por caixas de som. Um dia jurei que nada
me faria perder o fôlego e passei por torturas suficientes pra
chegar a acreditar nessas próprias palavras, mas aí descobri a
prisão e mudei de ideia. Perder a liberdade num mundo em que você
pode trocar de continentes em minutos ou até mesmo pegar uma nave
pra lua ou pra marte é como uma ferida pequena, mas inflamada. Ela
vai piorando, vai te consumindo. Nem mesmo o mais forte dos homens
resiste dentro de uma prisão: não é natural, ele precisa quebrar
suas correntes e fugir dali. “Humanos são animais selvagens”,
falei sozinho, “Não suportam coleiras e jaulas como cães”. E
mesmo se animais selvagens se acostumam com suas jaulas, eu nunca se
acostumaria com a minha. Aquele lugar era claustrofóbico e a cada
dia eu sentia mais medo. Quanto mais o medo tomava meu coração,
maior se tornava sua raiva. Ainda mais: quanto mais apertavam a
camisa de força e quanto mais mm drogavam, maior se tornava seu
ódio. Depois de todos os anos de existência, a psiquiatria ainda
não tinha encontrado meios de “curar” monstros, então
retornaram ao paradigma de prendê-los e fazer todo tipo de
experimento. Que meu pai tenha permitido que eu ficasse num lugar
daqueles me revoltava ainda mais.
Apesar de que eu já
tinha perdido a noção do tempo e até da realidade, aquele dia de
visitas era meu único alívio. Eu saia da cela assim uma vez por mês
e via os outros internos, que costumavam dar shows e tentar
homicídios de tempo em tempo. Ficavam, em sua maioria, presos em
camisas de força, mas podiam andar por um pátio e até entrar em
uma realidade virtual limitada quando bem-comportados. Os meus
benefícios eram dados ao acaso como era a minha violência: eu quase
sempre me comportava bem, como se espera de um doutor abastado, mas
de tempos em tempos apresentava comportamento violento premeditado e
sem aviso. Todos os meus ataques resultavam em morte, então a
administração do “asylum” não sabia muito bem como lidar
comigo. Afinal, minh última vítima foi morta enquanto eu usava a
camisa de forças, de maneira que a única forma de me impedir de
matar era me isolando do mundo por completo. Mas isso era uma prática
ilegal, então cada vez tomavam uma decisão diferente. A ideia,
segundo consta, era impedir ele de usar a constância de uma rotina
pra premeditar mais um crime. Eles não sabiam como suas estratégias
eram óbvias pra ele e nem interpretavam meus comentários.
- Ah, então dessa vez eu
tenho minhas mãos? Senhores, senhores! Por acaso vocês realmente
não sabem o que eu sou? Lobos não podem ser adestrados!!
- A frase de efeito de
hoje foi fraca, em, Flyn? - comentou o diretor pelo alto-falante –
a do mês passado eu até publiquei na nuvem!
- Ah, diretor, que
gentileza sua se juntar a mim! Como vai sua esposa? Confio que o
caroço no seio esquerdo dela já foi removido?
- Ora, precisamos mesmo
começar o dia assim? Bem, é uma pena! Samuel...
Um guarda veio pelo
corredor com um cassetete e me acertou inúmeras vezes na cabeça e
no corpo, mas eu ria enquanto me contorcia pelo chão.
- Confio que você vai se
comportar agora? - disse o diretor
- Sim, claro. Sem
problemas – respondi sorrindo com gosto de sangue na boca
O guarda me guiou com
empurrões pelo corredor e prisioneiros gritavam meu nome, ainda
presos em suas celas. Se eu era o único solto, provavelmente seria o
único no pátio. Então essa mulher que me procurava realmente fazia
questão de me ver. Quem sabe ela não seria mais uma das pessoas
obcecadas que poderia sair perturbada dali, rendendo algumas risadas?
- Essa aí transou o mês
inteiro com o diretor por essa visita. Nem tem como você mandá-la
embora – o guarda comentou
- Então ele finalmente
se divorciou da esposa? Mas tudo o que eu precisava era deixar de ser
preguiçoso e ela iria gozar!
- Está casado ainda,
pelo que sei.
- Pelo seu tom e pelo
excesso de informação, ela também transou contigo, não foi?
- Ah sim. Transou. E
cara, como transou. Você quando transa com uma mulher que não é
artificial acaba mudando de perspectiva sobre o que é ter prazer.
Definitivamente ela sabe o que faz!
- E ela pediu pra você
dizer isso?
- Sim, pediu.
- Bem, tenho que
reconhecer que ela se esforçou. O diretor é um sujeitinho bem
repulsivo.
- E ela é uma obra de
arte, cara, puta que o pariu. Parece até que é indulger!
- haha! Você por acaso
já conheceu algum indulger?
- Só você mesmo. O
psicopata renegado deles.
- Bem, cadê a vadia
então?
- Ta no pátio com uma
mesa e duas cadeiras. Cuidado com o que falar que ela tá com um
gravador.
- Ah, uma repórter!
Magnífico, vou emputecer meu pai hoje! É um belo dia!
O homem deu uma risada e
me deixou no pátio, ainda vazio e escuro. Eu não podia nem mesmo
saber se era dia ou noite naquela cela. Ver o céu escuro me causou
raiva, mas a mulher acabou mudando minha perspectiva. Sim, era uma
mulher formidável, linda. E você podia perceber pelas pequenas
imperfeições que era a “versão original”. Mas o que chamou a
atenção mesmo foram aqueles peitos. O tamanho, o formato, o decote.
Sempre fui era muito exigente nesse quesito. Lembrou da música Rex
tremendae, do Jenkins: e com ela os descreveu! E ela percebeu a
apreciação.
- Sim, são naturais –
ela falou começando o diálogo – te mostro se você me deixar
contente
- Bem, o indulgers me
ensinaram uma coisa ou outra sobre deixar pessoas contentes. O que
você quer?
- Informação...
- ah, sim, todo mundo
quer isso hoje em dia! Bem, por onde começo? Primeiro meu pai me
deixou em uma jaula com os outros chimpanzés, depois me torturou com
choques elétricos...
- Não sou psiquiatra nem
nada, cara. Eu quero informação relevante, não palhaçada.
- Bem direta, então?
Pensei que faria mais rodeio com toda essa expressão sedutora.
- Não espero te seduzir.
Eu sei com quem estou lidando!
- Ah, sim, sim! Mas dessa
forma você vai acabar me seduzindo, senhorita? Sabe como adoro
prostitutas?
- bem, em tese você já
viveu como se fosse um, não foi?
- Tolices, tolices! De
certo que você não pensa que indulgers são prostitutos...!
- Eu estava falando de
você, não deles. Você não é nem nunca foi um deles, segundo
declarações espalhada por aí.
- Cães filhos da puta!
Querem agora negar minhas conquistas do passado!
A raiva voltou a tomar
conta de mim. Depois de tudo o que eu fiz por essa civilização, por
esse mundo, fui abandonado num cubículo pra apodrecer por tempo
indeterminado até um lacaio da indústria da saúde mental decidir
que conseguiu me curar. E agora até os indulgers, que me anunciaram
como um ex-membro, negavam que eu havia sido um deles. Provavelmente
com argumentos do tipo: “se fosse um de nós, nunca teria feito
isso ou aquilo”. “Filhos da puta vão pagar por isso!” pensei.
- Te irritei?
- Você me condenou a
essa vida? A esse maldito lugar!?
- Ah, agora sim! Bem
vindo, Flyn! Estive esperando por esse momento por um bom tempo!
- E agora está no seu
climáx. O que você quer de mim, rameira?
- Como eu disse, quero
informação. Que porra foi aquela em New York?
- Minha cela não tem
vista pra porra de uma cidade que fica a centenas de quilômetros.
- Foi um vulto, algo se
movendo em velocidade supersônica muito elevada que causou severos
estragos na cidade e resultou na morte de muitas pessoas.
- Ah, então finalmente
funcionou?! Nunca pensei que alguém conseguiria vestir a porra do
traje. Sabe, parece que pra entrar ali você precisa ser bem
instável. Alguma coisa gira e se contorce dentro de você de um
jeito que os caras não suportam.
- Sim, sim, as
fotografias parecem indicar que se tratava de um traje. O que você
sabe dele?
- Eu sei que você devia
parar de falar nele se tem amor à vida. Seria uma pena que peitos
tão naturalmente perfeitos fossem arrancados de você!
- Eu luto pelo que
acredito, Flyn, e morro se for necessário.
- Palavras ousadas. Mas
quando começam a remover seus órgãos internos sem deixar você
desmaiar as coisas mudam de perspectiva!
- E esse traje faz isso?
- Ah não, impossível.
Ele te torna pó, mesmo. É a arma mais perigosa que esse mundo já
viu.
- E você já pilotou
essa máquina?
- Sim e não.
- Como assim?
- Eu pilotei um protótipo
que basicamente arrancou meu braço esquerdo por não suportar a
pressão da velocidade. Mas sim, eu já entrei em hipertempo e, como
pode ver, ganhei um braço novinho antes de ser internado aqui pra
deixar ele quase sempre amarrado em camisa de força.
- Entendo que você é
doutor em física teórica. Pode me explicar o que é o hipertempo?
- Em termos que uma
jornalista entenderia? Complicado!
- Entendo mais do que
você imagina!
- Bem, vou desenhar pra
você, mas precisa me fazer uma promessa.
- O que quer, ver meus
peitos?
- Não seja ridícula,
mulher. Eu quero que você propague essa informação pelo mundo
inteiro. E que responsabilize o meu pai.
- Um pedido perigoso. Que
eu realizaria de qualquer maneira!
- Ah, então você não
tem amor à vida mesmo! Mataram todo mundo ou algo assim?
- Não sei. Sou orfã.
Provavelmente meus pais eram viciados.
- Nossa, que triste! Eu
pegaria um lenço pra você se eu me importasse! Então, você
precisa incluir e todas as suas publicações a seguinte frase: “K
13, agora você precisa de mim”
- Fechado. Como funciona
o traje?
- Ele aproveita a
propriedade do marsídio de suportar pressão temporal pra
basicamente colocar um espaço entre duas camadas desse material em
um estado em que o tempo passa mais devagar. Em termos simples, tudo
o que o traje faz acontece milhares de vezes mais rápido pra você e
tudo o que você faz acontece milhares de vezes mais pra quem está
no traje. Você basicamente muda a própria fábrica da realidade
dentro de um ambiente controlado e torna quem o veste virtualmente
indestrutível, já que arma alguma consegue acertá-lo. É mais
rápido do que qualquer jato super-sônico. Seja quem for que
controla esse traje, é atualmente o dono do mundo.
- Não mesmo! Quando isso
cair na mídia o seu pai já era!
- hahahaha! Que mídia,
moça? Você realmente não sabe com quem está lidando, né? Acha
tetas e buceta vão te salvar? Você já está morta.
- Morro mas salvo vidas,
seu psicopata de merda!
O computador detectou a
mudança no tom de voz dela e soou o alarme pro diretor. Supostamente
as pessoas com doença mental do tipo que eu tinha têm
comportamentos que causam perturbações em terceiros. Ou talvez o
diretor tenha percebido a merda que fez e só queria preservar a
própria vida. Fosse como fosse, rapidamente ela tinha ido embora e
eu fui deixado ali no pátio. O efeito das medicações causou mais
um daqueles brancos na minha memória e, quando me dei conta, o sol
já brilhava no céu. Talvez alguém tenha me dado uma dose sem que
eu percebesse. Mas de certo que não foi um sonho, porque despertei
no pátio jogado no chão exatamente ao lado da cadeira onde estava
sentado. Toda vez que isso acontecia eu se enchia de mais ódio.
Contra o destino, contra a natureza, contra Deus. Contra qualquer
coisa abstrata o suficiente pra ser incapaz de se justificar...
Eu não podia culpar os
médicos, já que eu tinha esses apagões desde pequeno, então o
problema foi que eu já nasci defeituoso e nenhuma inteligência foi
capaz de me salvar. A tecnologia do Peçanha fez apenas reduzir
alguns sintomas, mas foi como se, em resposta, meu cérebro tivesse
amplificado meus problemas. Vivendo naquela casa de monstros, sem
noção de tempo ou espaço, eu ia ficando cada vez mais insano. A
verdade é que ninguém procurava mais a cura pros problemas dos
“loucos violentos”. A busca ali era de duas faces: a primeira, e
mais óbvia, era a busca por informações extravagantes com o
objetivo de escrever livros e ganhar dinheiro; a segunda era pra
fazer testes e aumentar a capacidade de identificar pessoas como nós
que ainda estão soltas. Basicamente, é como se fossemos animais
selvagens: nos capturam, estudam nossos instintos e usam esse
conhecimento pra conseguir capturar outros. E aí preparam
apresentações audio-visuais em seus livrinhos de horrores e vendem
o espetáculo! Eramos animais enjaulados num circo e nosso ódio só
fazia aumentar, por mais que o nosso crescente silêncio parecesse
indicar o contrário.
O período fora da jaula
acolchoada estava próximo, então decidi buscar na nuvem se algo do
que eu falei foi publicado – se, aliás, aquela entrevista sequer
aconteceu! Acessei o computador no centro da sala e busquei notícias
sobre a jornalista ordenando por data. Como eu não sabia o nome
dela, procurei pelo meu próprio nome e encontrei apenas uma página.
Nela, encontrei uma foto da mulher e seu nome, mas não precisei
deles. A notícia era definitiva: a pobre jovem morreu de um ataque
no coração. O autor especulava sobre o fato de que ela queria ter
contato com um psicopata famoso: teriam seus admiradores matado ela
com algum veneno?
“quantos especuladores
que desconfiaram do meu pai chegaram a surgir? Quanta gente ele
matou?” pensei comigo mesmo
- Está se sacudindo aí
no computador porque? Se apaixonou pela jornalista? - me perguntou
Ernst, o diretor da prisão
- Eu to me sacudindo
porque eu sou um doente mental, não soube?
- Sim, mas o que passa na
sua cabeça?
- Uma pergunta.
- E qual seria essa
pergunta?
- Será que meu pai
recebeu meu recado?
- foi o “k 13, agora
você precisa de mim?”
- Exato.
- Sim, eu o entreguei
pessoalmente.
- Então você que matou
a mulher?
- Ela era... Uma
complicação na minha vida pessoal. Além disso, se ela saísse
daqui com a informação que você deu, eu estaria morto.
- Porra, você trabalha
pro meu pai?
- Não, eu trabalho pra
um amigo do seu pai.
- E ninguém vai te matar
por você saber o que sabe?
- Parece que não. Eu sei
o meu lugar, não tenho a pretensão de entrar em conflito com os
grandes. Além disso, seu pai já fez a demonstração pública do
traje e já há especulações bem precisas na mídia. O dano que eu
poderia causar não seria grande e eu morreria em uma questão de
minutos depois de publicar a notícia. Quero comer a buceta seca da
minha mulher, sabe?
- Cara, sabe que eu
sempre quis saber como é que você consegue se manter casado? Porra,
você droga ela ou o que? Não é possível, vocês já estão a 20
anos juntos!
- Da mesma maneira que se
segurava relacionamentos no passado. Medo.
- Hahahaha! Não me
surpreende que você tenha sido escalado pra tomar conta de nós! Não
é muito diferente da gente, né?
- Completamente
diferente, caro Flyn. Daqui a 20 minutos eu vou estar em casa bebendo
vinho, ouvindo Bach e recebendo um boquete de um robô com a
aparência de uma adolescente asiática enquanto você vai estar
preso numa cela acolchoada, amarrado numa camisa de força e sozinho.
- Bem, nem todo mundo tem
a sua sorte, né? Mas diga: algum recado do meu pai
- Ah sim, sim. Veja aqui.
Era uma equação
mostrando um cálculo de energia cinética molecular na situação
hipótetica do hipertempo. Mostrava o que acontecia com moléculos a
13 ºK dentro do hiper-tempo, basicamente. Mostrava a razão pela
qual o Marsídio era perfeito pro hiper-tempo e, mais ainda, tinha um
recado pra mim. Que tudo ali naquele lugar queimaria. E 10.000 vezes
mais rápido do que eu imaginava! Só pela empolgação de ler aquela
equação eu já rompo ligamentos do peitoral e dos ombros, dando
lugar à minha musculatura artificial novamente. Naquela noite eu
destruiria o circo dos horrores! E todas as bestas seriam libertas!
O corredor do asylum até
a minha sala era longo e a minha cela era a última. Enquanto eu
andava, me senti como se fosse o próprio Jesus Cristo montado em seu
burro e sendo recebido com toda honra e toda a glória. Os loucos me
chamavam, eles perceberam que era a primeira vez que eu sorria dentro
daquele inferno em 5 anos. Sabiam que eu tinha um plano. Mesmo com
toda a importância daquele momento eu ainda não ouvia música
nenhuma na minha mente. Se instaurou um silêncio sombrio e pacífico
na minha mente e passavam imagens da destruição que eu iria causar,
me dando calafrios.
Entrei na cela, as luzes
se apagaram e eu ativei todos os meus músculos. A dos excruciante
parecia ter se transformado em prazer. Eu nem precisava ampliar minha
força muscular: ela não seria suficiente pra abrir minha cela e não
seria necessária pra pilotar o traje. Mas de, alguma maneira, ativar
aquela força dentro de mim era como liberar a besta adormecida. A
luz forte bateu na minha janela 15 minutos depois e eu já sabia o
que estava acontecendo: era a salvação!
Senti o cheiro de
queimado enquanto o robô abria um buraco diretamente na parede da
minha cela e quis derrubar aquela placa de titânio com as próprias
mãos, mas me controlei imaginando que meu traje usual poderia ser
derrubado no mar. Aliás, pra quem não sabe, essa prisão fica numa
enorme e inóspita ilha no meio do oceano pacífico.
Quando a placa caiu, no
entanto meu traje usual não estava ali. O que ele enviou foi o traje
de hipertempo. Ele tinha a mesma aparência do primeiro protótipo
que vesti, mas tinha modificações reforçando os braços. Ele
colocou uma placa bem na cabeça do traje. “prove que preciso de
você. Prove que é sangue do meu sangue”.
E eu simplesmente pulei
pra dentro do traje. Saltei de costas, contra a possibilidade de
despencar naquele abismo e vi o traje se fechando automaticamente em
volta de mim. Ele estava pré-montado e os robôs começaram a selar
as camadas mais externas enquanto o sistema operacional se iniciava e
se coordenava com meu endocomputador. Eu não senti medo, mas
adrenalina. Naquele momento eu finalmente entendi o que meu pai
pretendia me internando. Ele não estava de fato me punindo por ser
vergonhoso pra família. Há centenas de anos a nossa família
carrega um legado de poder e morte e nunca nos envergonhamos disso.
Ele só queria que eu parasse pra lembrar o que eu sou, o que eu
sempre fui. Que eu nunca poderia ter sido indulger, que eu nunca
aprenderia a amar. Em 5 anos preso nesse buraco eu tive ampla
oportunidade pra lembrar desse fato crucial. De certo ele soube que
eu estava matando pessoas desde o começo, mas me assistiu e pensou
em como lidar com a situação. Ele projetou o futuro, decidiu que eu
precisava me recuperar e que essa tortura era o que eu precisava.
Naquele momento, eu mostraria pra ele que era poderoso, que era um
verdadeiro Pinkman!
O traje se fechou a os
robôs voaram pra longe imediatamente. O hipertempo se ativou e eu
assisti de olhos abertos enquanto o tempo desacelerava, as cores
mudaram, o mundo escurecia de medo do meu poder! Alguém deixou o cão
sair e ele pretendia soltar toda a matilha! Uma lança de marsídio
nano-afiada estava agregada nas costas do traje e não foi difícil
romper o lacre de tungstênio pra soltá-la e começar a brincadeira.
Liguei as hélices e fui voando e cortando todo o teto do prédio.
Naquela noite, a razão e a ordem artificial da sociedade não
estariam protegidos da tempestade. Voltei pra minha cela com todo o
cuidado pra não destruir o lugar todo. Andei até a porta e a
arrombei. Quantas vezes eu não sonhei com ter aquele poder! O guarda
estava parado diante da porta, assombrado com o que via. Ele
provavelmente pensava que estava enlouquecendo e que aquilo não era
real. O novo sistema operacional conseguia falar em hiper-tempo.
- Senhor Pinkman, temos
agora a funcionalidade do pulso hiper-sônico. Deseja testá-la?
- Sim, prossiga.
- para ativá-lo, basta o
senhor gritar. Seu grito será projetado adiante.
E como eu queria
comemorar! Meu pai de fato queria ver minha fúria liberta. Esse
pulso já estava projetado em termos teóricos e era genial. Obre de
um Pinkman, evidentemente! Que ele fosse ativado por grito, no
entanto, era apenas um presente do meu pai. E eu fiz questão de
lançar o grito mais gutural de que eu era capaz.
- Giiiaaarrgh!!
Pude ver a vibração do
som se propagando lentamente, mesmo que não pudesse ouvir mais do
que um leve zumbido grave. A parede se rompeu a porta voou na direção
do guarda, o esmagando contra a porta da frente. A loucura finalmente
teve voz! Era hora do mundo testemunhas aquilo!
Removi minha porta e a
outra, abrindo a cela do louco que ficava de frente pra mim. E andei
pelo meu corredor do triunfo, libertando todos aqueles que viviam sob
o impetuoso julgo da razão. Minha adrenalina fez com que eu rompesse
algumas portas rápido demais, provocando pequenos incêndios que
tive que rapidamente apagar. Depois de algum tempo, alguns já tinham
entendido que a liberdade estava vindo e sorriam. Pareciam parados,
vivendo na dimensão normal de tempo e espaço, mas sabiam que eu
estava lá e me agradeceram com seus olhos. Rompi todas as celas,
quebrei todas as portas e a minha presença foi como um grande
terremoto. Naquele momento, eu era Deus libertando Paulos! Matei
todos os funcionários do lugar, destrui todos os robôs. Deixei
apenas o diretor viver, já que ele poderia se tornar um homem leal
ao meu pai por esse gesto. Foi a minha forma de agradecer por aquele
grandioso presente.
Saí da prisão com outro
grito pra abrir as enormes portas de madeira. Ainda se podia ver
pássaros fugindo em pânico. Qual não foi minha surpresa quando vi
aquele enorme navio no cais. Tripulado apenas por robôs! Gritei pro
céu e vi as próprias nuvens saírem do caminha da minha fúria.
Pra orientar os que ainda
estariam drogados, enfiei minha lança naquele chão rochoso e
desenhei uma trilha até o cair. Lá, escrevi no chão. “Fucking
freedom!”
E voei, e girei, deixando
minha trilha de gotas de chuva evaporadas. Naquele momento, a música
voltou pro meu coração. “the world's on fire!” Abri meus
braços, fechei meus olhos. Finalmente meu momento chegou.