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8 - Recordações da casa dos monstros

Flyn Pinkman - 2075

- Flyn, você tem visita! - o guarda anunciou pela porta da cela
- Diz pra ele que só falo com ele quando ele me tirar daqui. - Flyn respondeu
- É uma mulher te procurando. - guarda respondeu meio confuso
- Você é novo aqui? Diz pra ela que falo com ela quando ele me tirar daqui. E que já estou ficando impaciente.

O guarda não falou mais nada e saiu. Eram todos instruídos a não falar comigo desde o incidente em que convenci um guarda a abrir minha cela e o matei a mordidas. Fui o único Indulger efetivamente expulso do grupo por suas ações. Era brutal demais, intenso demais. Pelo menos essa foi a explicação que me forneceram.
A cela tocava a música erudita que sempre amei e a luz podia ser controlada, mas fora isso era só eu e minha mente. Era um presídio de segurança máxima com poucas pessoas trabalhando. A robótica só não substituiu tudo nas prisões por causa de um filme sobre a fuga em massa de criminosos causada por hackers de uma organização criminosa. Mas a comida era sempre a mesma e o cheiro também. Lembrete da artificialidade que o mundo tinha se tornado. Eu sonhava com a Ópera e com orquestras que nunca poderiam ser mimicados por caixas de som. Um dia jurei que nada me faria perder o fôlego e passei por torturas suficientes pra chegar a acreditar nessas próprias palavras, mas aí descobri a prisão e mudei de ideia. Perder a liberdade num mundo em que você pode trocar de continentes em minutos ou até mesmo pegar uma nave pra lua ou pra marte é como uma ferida pequena, mas inflamada. Ela vai piorando, vai te consumindo. Nem mesmo o mais forte dos homens resiste dentro de uma prisão: não é natural, ele precisa quebrar suas correntes e fugir dali. “Humanos são animais selvagens”, falei sozinho, “Não suportam coleiras e jaulas como cães”. E mesmo se animais selvagens se acostumam com suas jaulas, eu nunca se acostumaria com a minha. Aquele lugar era claustrofóbico e a cada dia eu sentia mais medo. Quanto mais o medo tomava meu coração, maior se tornava sua raiva. Ainda mais: quanto mais apertavam a camisa de força e quanto mais mm drogavam, maior se tornava seu ódio. Depois de todos os anos de existência, a psiquiatria ainda não tinha encontrado meios de “curar” monstros, então retornaram ao paradigma de prendê-los e fazer todo tipo de experimento. Que meu pai tenha permitido que eu ficasse num lugar daqueles me revoltava ainda mais.
Apesar de que eu já tinha perdido a noção do tempo e até da realidade, aquele dia de visitas era meu único alívio. Eu saia da cela assim uma vez por mês e via os outros internos, que costumavam dar shows e tentar homicídios de tempo em tempo. Ficavam, em sua maioria, presos em camisas de força, mas podiam andar por um pátio e até entrar em uma realidade virtual limitada quando bem-comportados. Os meus benefícios eram dados ao acaso como era a minha violência: eu quase sempre me comportava bem, como se espera de um doutor abastado, mas de tempos em tempos apresentava comportamento violento premeditado e sem aviso. Todos os meus ataques resultavam em morte, então a administração do “asylum” não sabia muito bem como lidar comigo. Afinal, minh última vítima foi morta enquanto eu usava a camisa de forças, de maneira que a única forma de me impedir de matar era me isolando do mundo por completo. Mas isso era uma prática ilegal, então cada vez tomavam uma decisão diferente. A ideia, segundo consta, era impedir ele de usar a constância de uma rotina pra premeditar mais um crime. Eles não sabiam como suas estratégias eram óbvias pra ele e nem interpretavam meus comentários.

- Ah, então dessa vez eu tenho minhas mãos? Senhores, senhores! Por acaso vocês realmente não sabem o que eu sou? Lobos não podem ser adestrados!!
- A frase de efeito de hoje foi fraca, em, Flyn? - comentou o diretor pelo alto-falante – a do mês passado eu até publiquei na nuvem!
- Ah, diretor, que gentileza sua se juntar a mim! Como vai sua esposa? Confio que o caroço no seio esquerdo dela já foi removido?
- Ora, precisamos mesmo começar o dia assim? Bem, é uma pena! Samuel...

Um guarda veio pelo corredor com um cassetete e me acertou inúmeras vezes na cabeça e no corpo, mas eu ria enquanto me contorcia pelo chão.

- Confio que você vai se comportar agora? - disse o diretor
- Sim, claro. Sem problemas – respondi sorrindo com gosto de sangue na boca

O guarda me guiou com empurrões pelo corredor e prisioneiros gritavam meu nome, ainda presos em suas celas. Se eu era o único solto, provavelmente seria o único no pátio. Então essa mulher que me procurava realmente fazia questão de me ver. Quem sabe ela não seria mais uma das pessoas obcecadas que poderia sair perturbada dali, rendendo algumas risadas?

- Essa aí transou o mês inteiro com o diretor por essa visita. Nem tem como você mandá-la embora – o guarda comentou
- Então ele finalmente se divorciou da esposa? Mas tudo o que eu precisava era deixar de ser preguiçoso e ela iria gozar!
- Está casado ainda, pelo que sei.
- Pelo seu tom e pelo excesso de informação, ela também transou contigo, não foi?
- Ah sim. Transou. E cara, como transou. Você quando transa com uma mulher que não é artificial acaba mudando de perspectiva sobre o que é ter prazer. Definitivamente ela sabe o que faz!
- E ela pediu pra você dizer isso?
- Sim, pediu.
- Bem, tenho que reconhecer que ela se esforçou. O diretor é um sujeitinho bem repulsivo.
- E ela é uma obra de arte, cara, puta que o pariu. Parece até que é indulger!
- haha! Você por acaso já conheceu algum indulger?
- Só você mesmo. O psicopata renegado deles.
- Bem, cadê a vadia então?
- Ta no pátio com uma mesa e duas cadeiras. Cuidado com o que falar que ela tá com um gravador.
- Ah, uma repórter! Magnífico, vou emputecer meu pai hoje! É um belo dia!

O homem deu uma risada e me deixou no pátio, ainda vazio e escuro. Eu não podia nem mesmo saber se era dia ou noite naquela cela. Ver o céu escuro me causou raiva, mas a mulher acabou mudando minha perspectiva. Sim, era uma mulher formidável, linda. E você podia perceber pelas pequenas imperfeições que era a “versão original”. Mas o que chamou a atenção mesmo foram aqueles peitos. O tamanho, o formato, o decote. Sempre fui era muito exigente nesse quesito. Lembrou da música Rex tremendae, do Jenkins: e com ela os descreveu! E ela percebeu a apreciação.

- Sim, são naturais – ela falou começando o diálogo – te mostro se você me deixar contente
- Bem, o indulgers me ensinaram uma coisa ou outra sobre deixar pessoas contentes. O que você quer?
- Informação...
- ah, sim, todo mundo quer isso hoje em dia! Bem, por onde começo? Primeiro meu pai me deixou em uma jaula com os outros chimpanzés, depois me torturou com choques elétricos...
- Não sou psiquiatra nem nada, cara. Eu quero informação relevante, não palhaçada.
- Bem direta, então? Pensei que faria mais rodeio com toda essa expressão sedutora.
- Não espero te seduzir. Eu sei com quem estou lidando!
- Ah, sim, sim! Mas dessa forma você vai acabar me seduzindo, senhorita? Sabe como adoro prostitutas?
- bem, em tese você já viveu como se fosse um, não foi?
- Tolices, tolices! De certo que você não pensa que indulgers são prostitutos...!
- Eu estava falando de você, não deles. Você não é nem nunca foi um deles, segundo declarações espalhada por aí.
- Cães filhos da puta! Querem agora negar minhas conquistas do passado!

A raiva voltou a tomar conta de mim. Depois de tudo o que eu fiz por essa civilização, por esse mundo, fui abandonado num cubículo pra apodrecer por tempo indeterminado até um lacaio da indústria da saúde mental decidir que conseguiu me curar. E agora até os indulgers, que me anunciaram como um ex-membro, negavam que eu havia sido um deles. Provavelmente com argumentos do tipo: “se fosse um de nós, nunca teria feito isso ou aquilo”. “Filhos da puta vão pagar por isso!” pensei.

- Te irritei?
- Você me condenou a essa vida? A esse maldito lugar!?
- Ah, agora sim! Bem vindo, Flyn! Estive esperando por esse momento por um bom tempo!
- E agora está no seu climáx. O que você quer de mim, rameira?
- Como eu disse, quero informação. Que porra foi aquela em New York?
- Minha cela não tem vista pra porra de uma cidade que fica a centenas de quilômetros.
- Foi um vulto, algo se movendo em velocidade supersônica muito elevada que causou severos estragos na cidade e resultou na morte de muitas pessoas.
- Ah, então finalmente funcionou?! Nunca pensei que alguém conseguiria vestir a porra do traje. Sabe, parece que pra entrar ali você precisa ser bem instável. Alguma coisa gira e se contorce dentro de você de um jeito que os caras não suportam.
- Sim, sim, as fotografias parecem indicar que se tratava de um traje. O que você sabe dele?
- Eu sei que você devia parar de falar nele se tem amor à vida. Seria uma pena que peitos tão naturalmente perfeitos fossem arrancados de você!
- Eu luto pelo que acredito, Flyn, e morro se for necessário.
- Palavras ousadas. Mas quando começam a remover seus órgãos internos sem deixar você desmaiar as coisas mudam de perspectiva!
- E esse traje faz isso?
- Ah não, impossível. Ele te torna pó, mesmo. É a arma mais perigosa que esse mundo já viu.
- E você já pilotou essa máquina?
- Sim e não.
- Como assim?
- Eu pilotei um protótipo que basicamente arrancou meu braço esquerdo por não suportar a pressão da velocidade. Mas sim, eu já entrei em hipertempo e, como pode ver, ganhei um braço novinho antes de ser internado aqui pra deixar ele quase sempre amarrado em camisa de força.
- Entendo que você é doutor em física teórica. Pode me explicar o que é o hipertempo?
- Em termos que uma jornalista entenderia? Complicado!
- Entendo mais do que você imagina!
- Bem, vou desenhar pra você, mas precisa me fazer uma promessa.
- O que quer, ver meus peitos?
- Não seja ridícula, mulher. Eu quero que você propague essa informação pelo mundo inteiro. E que responsabilize o meu pai.
- Um pedido perigoso. Que eu realizaria de qualquer maneira!
- Ah, então você não tem amor à vida mesmo! Mataram todo mundo ou algo assim?
- Não sei. Sou orfã. Provavelmente meus pais eram viciados.
- Nossa, que triste! Eu pegaria um lenço pra você se eu me importasse! Então, você precisa incluir e todas as suas publicações a seguinte frase: “K 13, agora você precisa de mim”
- Fechado. Como funciona o traje?
- Ele aproveita a propriedade do marsídio de suportar pressão temporal pra basicamente colocar um espaço entre duas camadas desse material em um estado em que o tempo passa mais devagar. Em termos simples, tudo o que o traje faz acontece milhares de vezes mais rápido pra você e tudo o que você faz acontece milhares de vezes mais pra quem está no traje. Você basicamente muda a própria fábrica da realidade dentro de um ambiente controlado e torna quem o veste virtualmente indestrutível, já que arma alguma consegue acertá-lo. É mais rápido do que qualquer jato super-sônico. Seja quem for que controla esse traje, é atualmente o dono do mundo.
- Não mesmo! Quando isso cair na mídia o seu pai já era!
- hahahaha! Que mídia, moça? Você realmente não sabe com quem está lidando, né? Acha tetas e buceta vão te salvar? Você já está morta.
- Morro mas salvo vidas, seu psicopata de merda!

O computador detectou a mudança no tom de voz dela e soou o alarme pro diretor. Supostamente as pessoas com doença mental do tipo que eu tinha têm comportamentos que causam perturbações em terceiros. Ou talvez o diretor tenha percebido a merda que fez e só queria preservar a própria vida. Fosse como fosse, rapidamente ela tinha ido embora e eu fui deixado ali no pátio. O efeito das medicações causou mais um daqueles brancos na minha memória e, quando me dei conta, o sol já brilhava no céu. Talvez alguém tenha me dado uma dose sem que eu percebesse. Mas de certo que não foi um sonho, porque despertei no pátio jogado no chão exatamente ao lado da cadeira onde estava sentado. Toda vez que isso acontecia eu se enchia de mais ódio. Contra o destino, contra a natureza, contra Deus. Contra qualquer coisa abstrata o suficiente pra ser incapaz de se justificar...
Eu não podia culpar os médicos, já que eu tinha esses apagões desde pequeno, então o problema foi que eu já nasci defeituoso e nenhuma inteligência foi capaz de me salvar. A tecnologia do Peçanha fez apenas reduzir alguns sintomas, mas foi como se, em resposta, meu cérebro tivesse amplificado meus problemas. Vivendo naquela casa de monstros, sem noção de tempo ou espaço, eu ia ficando cada vez mais insano. A verdade é que ninguém procurava mais a cura pros problemas dos “loucos violentos”. A busca ali era de duas faces: a primeira, e mais óbvia, era a busca por informações extravagantes com o objetivo de escrever livros e ganhar dinheiro; a segunda era pra fazer testes e aumentar a capacidade de identificar pessoas como nós que ainda estão soltas. Basicamente, é como se fossemos animais selvagens: nos capturam, estudam nossos instintos e usam esse conhecimento pra conseguir capturar outros. E aí preparam apresentações audio-visuais em seus livrinhos de horrores e vendem o espetáculo! Eramos animais enjaulados num circo e nosso ódio só fazia aumentar, por mais que o nosso crescente silêncio parecesse indicar o contrário.
O período fora da jaula acolchoada estava próximo, então decidi buscar na nuvem se algo do que eu falei foi publicado – se, aliás, aquela entrevista sequer aconteceu! Acessei o computador no centro da sala e busquei notícias sobre a jornalista ordenando por data. Como eu não sabia o nome dela, procurei pelo meu próprio nome e encontrei apenas uma página. Nela, encontrei uma foto da mulher e seu nome, mas não precisei deles. A notícia era definitiva: a pobre jovem morreu de um ataque no coração. O autor especulava sobre o fato de que ela queria ter contato com um psicopata famoso: teriam seus admiradores matado ela com algum veneno?
“quantos especuladores que desconfiaram do meu pai chegaram a surgir? Quanta gente ele matou?” pensei comigo mesmo

- Está se sacudindo aí no computador porque? Se apaixonou pela jornalista? - me perguntou Ernst, o diretor da prisão
- Eu to me sacudindo porque eu sou um doente mental, não soube?
- Sim, mas o que passa na sua cabeça?
- Uma pergunta.
- E qual seria essa pergunta?
- Será que meu pai recebeu meu recado?
- foi o “k 13, agora você precisa de mim?”
- Exato.
- Sim, eu o entreguei pessoalmente.
- Então você que matou a mulher?
- Ela era... Uma complicação na minha vida pessoal. Além disso, se ela saísse daqui com a informação que você deu, eu estaria morto.
- Porra, você trabalha pro meu pai?
- Não, eu trabalho pra um amigo do seu pai.
- E ninguém vai te matar por você saber o que sabe?
- Parece que não. Eu sei o meu lugar, não tenho a pretensão de entrar em conflito com os grandes. Além disso, seu pai já fez a demonstração pública do traje e já há especulações bem precisas na mídia. O dano que eu poderia causar não seria grande e eu morreria em uma questão de minutos depois de publicar a notícia. Quero comer a buceta seca da minha mulher, sabe?
- Cara, sabe que eu sempre quis saber como é que você consegue se manter casado? Porra, você droga ela ou o que? Não é possível, vocês já estão a 20 anos juntos!
- Da mesma maneira que se segurava relacionamentos no passado. Medo.
- Hahahaha! Não me surpreende que você tenha sido escalado pra tomar conta de nós! Não é muito diferente da gente, né?
- Completamente diferente, caro Flyn. Daqui a 20 minutos eu vou estar em casa bebendo vinho, ouvindo Bach e recebendo um boquete de um robô com a aparência de uma adolescente asiática enquanto você vai estar preso numa cela acolchoada, amarrado numa camisa de força e sozinho.
- Bem, nem todo mundo tem a sua sorte, né? Mas diga: algum recado do meu pai
- Ah sim, sim. Veja aqui.

Era uma equação mostrando um cálculo de energia cinética molecular na situação hipótetica do hipertempo. Mostrava o que acontecia com moléculos a 13 ºK dentro do hiper-tempo, basicamente. Mostrava a razão pela qual o Marsídio era perfeito pro hiper-tempo e, mais ainda, tinha um recado pra mim. Que tudo ali naquele lugar queimaria. E 10.000 vezes mais rápido do que eu imaginava! Só pela empolgação de ler aquela equação eu já rompo ligamentos do peitoral e dos ombros, dando lugar à minha musculatura artificial novamente. Naquela noite eu destruiria o circo dos horrores! E todas as bestas seriam libertas!
O corredor do asylum até a minha sala era longo e a minha cela era a última. Enquanto eu andava, me senti como se fosse o próprio Jesus Cristo montado em seu burro e sendo recebido com toda honra e toda a glória. Os loucos me chamavam, eles perceberam que era a primeira vez que eu sorria dentro daquele inferno em 5 anos. Sabiam que eu tinha um plano. Mesmo com toda a importância daquele momento eu ainda não ouvia música nenhuma na minha mente. Se instaurou um silêncio sombrio e pacífico na minha mente e passavam imagens da destruição que eu iria causar, me dando calafrios.
Entrei na cela, as luzes se apagaram e eu ativei todos os meus músculos. A dos excruciante parecia ter se transformado em prazer. Eu nem precisava ampliar minha força muscular: ela não seria suficiente pra abrir minha cela e não seria necessária pra pilotar o traje. Mas de, alguma maneira, ativar aquela força dentro de mim era como liberar a besta adormecida. A luz forte bateu na minha janela 15 minutos depois e eu já sabia o que estava acontecendo: era a salvação!
Senti o cheiro de queimado enquanto o robô abria um buraco diretamente na parede da minha cela e quis derrubar aquela placa de titânio com as próprias mãos, mas me controlei imaginando que meu traje usual poderia ser derrubado no mar. Aliás, pra quem não sabe, essa prisão fica numa enorme e inóspita ilha no meio do oceano pacífico.
Quando a placa caiu, no entanto meu traje usual não estava ali. O que ele enviou foi o traje de hipertempo. Ele tinha a mesma aparência do primeiro protótipo que vesti, mas tinha modificações reforçando os braços. Ele colocou uma placa bem na cabeça do traje. “prove que preciso de você. Prove que é sangue do meu sangue”.
E eu simplesmente pulei pra dentro do traje. Saltei de costas, contra a possibilidade de despencar naquele abismo e vi o traje se fechando automaticamente em volta de mim. Ele estava pré-montado e os robôs começaram a selar as camadas mais externas enquanto o sistema operacional se iniciava e se coordenava com meu endocomputador. Eu não senti medo, mas adrenalina. Naquele momento eu finalmente entendi o que meu pai pretendia me internando. Ele não estava de fato me punindo por ser vergonhoso pra família. Há centenas de anos a nossa família carrega um legado de poder e morte e nunca nos envergonhamos disso. Ele só queria que eu parasse pra lembrar o que eu sou, o que eu sempre fui. Que eu nunca poderia ter sido indulger, que eu nunca aprenderia a amar. Em 5 anos preso nesse buraco eu tive ampla oportunidade pra lembrar desse fato crucial. De certo ele soube que eu estava matando pessoas desde o começo, mas me assistiu e pensou em como lidar com a situação. Ele projetou o futuro, decidiu que eu precisava me recuperar e que essa tortura era o que eu precisava. Naquele momento, eu mostraria pra ele que era poderoso, que era um verdadeiro Pinkman!

O traje se fechou a os robôs voaram pra longe imediatamente. O hipertempo se ativou e eu assisti de olhos abertos enquanto o tempo desacelerava, as cores mudaram, o mundo escurecia de medo do meu poder! Alguém deixou o cão sair e ele pretendia soltar toda a matilha! Uma lança de marsídio nano-afiada estava agregada nas costas do traje e não foi difícil romper o lacre de tungstênio pra soltá-la e começar a brincadeira. Liguei as hélices e fui voando e cortando todo o teto do prédio. Naquela noite, a razão e a ordem artificial da sociedade não estariam protegidos da tempestade. Voltei pra minha cela com todo o cuidado pra não destruir o lugar todo. Andei até a porta e a arrombei. Quantas vezes eu não sonhei com ter aquele poder! O guarda estava parado diante da porta, assombrado com o que via. Ele provavelmente pensava que estava enlouquecendo e que aquilo não era real. O novo sistema operacional conseguia falar em hiper-tempo.

- Senhor Pinkman, temos agora a funcionalidade do pulso hiper-sônico. Deseja testá-la?
- Sim, prossiga.
- para ativá-lo, basta o senhor gritar. Seu grito será projetado adiante.

E como eu queria comemorar! Meu pai de fato queria ver minha fúria liberta. Esse pulso já estava projetado em termos teóricos e era genial. Obre de um Pinkman, evidentemente! Que ele fosse ativado por grito, no entanto, era apenas um presente do meu pai. E eu fiz questão de lançar o grito mais gutural de que eu era capaz.

- Giiiaaarrgh!!

Pude ver a vibração do som se propagando lentamente, mesmo que não pudesse ouvir mais do que um leve zumbido grave. A parede se rompeu a porta voou na direção do guarda, o esmagando contra a porta da frente. A loucura finalmente teve voz! Era hora do mundo testemunhas aquilo!
Removi minha porta e a outra, abrindo a cela do louco que ficava de frente pra mim. E andei pelo meu corredor do triunfo, libertando todos aqueles que viviam sob o impetuoso julgo da razão. Minha adrenalina fez com que eu rompesse algumas portas rápido demais, provocando pequenos incêndios que tive que rapidamente apagar. Depois de algum tempo, alguns já tinham entendido que a liberdade estava vindo e sorriam. Pareciam parados, vivendo na dimensão normal de tempo e espaço, mas sabiam que eu estava lá e me agradeceram com seus olhos. Rompi todas as celas, quebrei todas as portas e a minha presença foi como um grande terremoto. Naquele momento, eu era Deus libertando Paulos! Matei todos os funcionários do lugar, destrui todos os robôs. Deixei apenas o diretor viver, já que ele poderia se tornar um homem leal ao meu pai por esse gesto. Foi a minha forma de agradecer por aquele grandioso presente.
Saí da prisão com outro grito pra abrir as enormes portas de madeira. Ainda se podia ver pássaros fugindo em pânico. Qual não foi minha surpresa quando vi aquele enorme navio no cais. Tripulado apenas por robôs! Gritei pro céu e vi as próprias nuvens saírem do caminha da minha fúria.
Pra orientar os que ainda estariam drogados, enfiei minha lança naquele chão rochoso e desenhei uma trilha até o cair. Lá, escrevi no chão. “Fucking freedom!”


E voei, e girei, deixando minha trilha de gotas de chuva evaporadas. Naquele momento, a música voltou pro meu coração. “the world's on fire!” Abri meus braços, fechei meus olhos. Finalmente meu momento chegou.

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